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Em uma viagem que percorreu cerca de 200 quilômetros, unindo os quilombos Boa Vista dos Negros, em Parelhas (RN), e Cruz da Menina, em Dona Inês (PB), o Instituto Vivejar promoveu, no dia 13 de novembro, um intercâmbio transformador. Muito além de uma simples troca de experiências, o encontro foi um verdadeiro mergulho nas raízes culturais, onde as histórias e tradições de duas comunidades quilombolas se entrelaçaram.

A iniciativa integra o projeto de Fortalecimento do Turismo no Território Geoparque Seridó, RN, que abrange seis municípios: Currais Novos, Cerro Corá, Lagoa Nova, Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas. As ações voltadas para o impulso do Turismo de Base Comunitária (TBC) foram estrategicamente implementadas pelo Instituto Vivejar, com uma ênfase especial em Parelhas, na Comunidade Quilombola Boa Vista dos Negros. Este esforço é apenas uma entre as várias iniciativas desenvolvidas na região para fortalecer o turismo local. Desde 2022, o Instituto Vivejar tem atuado no planejamento e execução dessas ações, contribuindo significativamente para o desenvolvimento do turismo responsável do território.

“Esse intercâmbio é essencial para que as comunidades quilombolas possam compartilhar suas vivências e aprender umas com as outras”, ressalta Ana Rosa Proença, gestora do projeto. “O turismo de base comunitária não é apenas uma fonte de renda; é um poderoso meio de reafirmação cultural, fortalecimento da identidade e promoção da autonomia das comunidades”, enfatiza.

Inspiradas pelas experiências vividas, as participantes retornaram com novas ideias e inspirações para impulsionar seus próprios projetos. O intercâmbio não só fortalece o turismo de base comunitária, mas também reafirma a importância de investir em ações que preservem o patrimônio cultural das comunidades tradicionais. Como destaca Ana Rosa: “Ao fortalecer o TBC, estamos contribuindo para a preservação da cultura e para a melhoria da qualidade de vida das comunidades quilombolas, promovendo um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.”

Conheça as histórias por trás dos Quilombos

 

Boa Vista dos Negros: um legado de resistência no sertão potiguar

Localizado em Parelhas, RN, o Quilombo Boa Vista dos Negros remonta à segunda metade do século XVIII, quando Tereza, filha de escravizados fugidos do Brejo Paraibano, recebeu terras de um coronel da região. Essas terras foram passadas a ela após um pedido de abrigo feito por seu pai. Tereza engravidou do coronel e, assim, ela e seu filho Domingos deram início ao povoamento que, séculos depois, se tornaria a comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Cultural Palmares em 2004.

A comunidade se orgulha de tradições culturais ricas, como a secular Dança do Espontão, um festejo que acolhe a participação feminina em uma manifestação originalmente masculina. Uma de suas líderes mais influentes, Maria do Socorro Fernandes, conhecida como Mariah, é uma voz ativa na luta pelos direitos quilombolas, sendo Coordenadora Nacional da CONAQ e membro do Coletivo de Mulheres Negras da entidade.

Cruz da Menina: uma história de luta e resistência na Paraíba

No município de Dona Inês, PB, o Quilombo Cruz da Menina guarda memórias de luta e superação. O nome da comunidade é uma homenagem trágica a uma criança que morreu de fome e sede após pedir comida a um fazendeiro. Reconhecida como comunidade quilombola em 2008, graças à articulação de um coletivo de mulheres, a comunidade preserva suas tradições através de danças, música e o ofício ancestral do barro.

A luta pela titulação de suas terras ainda é uma realidade desafiadora para Cruz da Menina, que segue firme na defesa de seus direitos sob a liderança de Bianca Cristina, uma das articuladoras do processo de reconhecimento e uma força motriz em prol da igualdade racial como Coordenadora Nacional da CONAQ e Conselheira Estadual da CEPIR.

O Intercâmbio de Saberes é mais do que uma simples conexão entre comunidades: é um marco na trajetória dessas localidades, que, por meio do turismo de base comunitária, reafirmam suas identidades, preservam suas culturas e constroem um futuro mais promissor. Que esses passos dados em conjunto inspirem outras comunidades a seguir pelo mesmo caminho, fortalecendo seus laços, promovendo a autonomia e valorizando suas tradições através do turismo responsável e sustentável.

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